11 junho 2009

Vou seguindo

Há seis meses atrás enterrávamos o corpo de papai.
Morreu de repente.
Meses de dúvidas aguardando o resultado do laudo de necropsia. Um laudo que ainda não li, talvez porque não mudará a situação, não preencherá ausência, não trará meu pai de volta.
No velório, entre meu irmão e o corpo sem vida, li Eclesiastes 3 na certeza de que a palavra lida é uma verdade incontestável. “Há tempo de nascer e tempo de morrer.”
Nestes últimos meses sofro de saudades. Nunca mais verei meu pai. Nunca mais sentirei seu cheiro, ganharei seu abraço, ouvirei sua voz, nem fugirei se suas cosquinhas.
Sinto por dentro uma dor que não tem remédio. E vou seguindo, lembrando os momentos que passamos juntos, as conversas que tivemos e as risadas que demos...
Penso no que gostaria de ter feito junto com ele. E no estranho arrependimento do que não fiz pra ele ou por ele. A foto que não entreguei, a toalha que não bordei, os netos que não gerei, as palavras que não disse...
Encontro refúgio nas lembranças, nas imagens registradas. E consolo ao pensar que, embora não o tenha visto brincar com meus filhos, presenciei sua alegria cada vez que curtia seu único neto, cada vez que rolavam no chão, lutavam com espada, brincavam com os personagens escolhidos e devidamente fantasiados: Mickey, Power Rangers, guarda de trânsito, cowboy... Momentos maravilhosos que ajudei a promover a cada viagem que fiz até sua casa e lhes proporcionei o encontro.
Não sei se a dor acaba. Talvez ela se acomode junto ao amor que guardo em meu peito.
Então vou seguindo certa de que, no próximo mês, meu inconsciente sinalizará novamente a data, a dor, o amor...
Vou seguindo...